sexta-feira, 16 de maio de 2014

Por um mundo com menos blá blá blá e mais atitude - Um ode aos que se acham muito especiais

"Nay, escreve aí: ainda vou ser reconhecido nacionalmente, vou tocar nos grandes palcos e terei dinheiro para rodar o mundo".

Disse, humildemente, um colega que, dos quinze aos vinte e oito anos compôs cerca de trinta músicas e, até hoje, gravou apenas uma em estúdio. Tem mais: toca esporadicamente em bares e casas noturnas, e o tempo médio em um emprego é três meses, já que a falta de compromisso e distração no trabalho impedem que ele faça carreira em alguma empresa.

Não, eu não tenho nenhum problema com esse colega. Apenas exemplifico uma tendência crescente dessa geração Y (da qual faço parte, porém não me identifico em muitos aspectos) de se achar a revolucionária e muito especial por algum motivo qualquer.

Muito já se foi dito sobre as novas tecnologias e como o comportamento do jovem está mudando drasticamente com a chegada dos smatphones, iphones, ipads, e o diabo a quatro que eu ainda não sei mexer. Salvo meu humilde samsung, que agradeço todos os dias por facilitar a comunicação através do whastapp (ô aplicativo divino!). Mas a discussão aqui vai muito além disso. Eu falo dessa juventude hedonista, individualista, que acha que o mundo pode acabar em sexo, drogas e rock'n roll.

Aliás, se terminasse assim seria uma maravilha. O problema é que vivemos em um sistema capitalista, um mercado de trabalho competitivo, em um planeta que está cada vez mais febril. E ainda tem o lixo do banheiro que precisa ser colocado pra fora todas as manhãs.

Sem generalizações, até porque tenho a sorte de conhecer jovens bem sucedidos que se esforçam para conseguir alcançar seus objetivos. Por outro lado, (o que me motivou a escrever este texto) são inúmeros de indivíduos como esse colega meu, que preservarei a identidade.


Pessoas que acreditam fielmente serem especiais simplesmente por terem uma boa ideia, projetos lindos no papel, composições estilo Chico, poemas como os de Leminski, pinturas inspiradas nas de Tarsila, e por aí vai. O mundo agradeceria com a vinda destes novos artistas talentosos se, por acaso, eles fizessem por onde.

A questão é que esses grandes artistas anônimos (porque o mundo ainda não teve a capacidade de reconhecê-los, claro) se fecham no fantástico mundo de bob, com seus relacionamentos de trinta dias (para postar no facebook), seus conflitos pessoais e crises existenciais. No primeiro momento, parecem jovens inteligentes e descolados, mas ao se depararem com problemas cotidianos, como mais exigência dentro da empresa, trabalhos de faculdade, contas a pagar e várias outras coisas comuns do dia-a-dia, eles simplesmente se descontrolam e não sabem como agir.

Li vários artigos que falam sobre esse egoísmo da geração Y para poder me embasar melhor o que já havia reparado em algumas pessoas com as quais convivo. Se bem que não é difícil perceber a mudança de pensamento dos jovens dentro desta mesma geração, por exemplo os dos anos 90, em relação aos de hoje. Em 1992, uma nação traçou um objetivo e conseguiu: o impeachment de Collor. Mais de vinte anos depois, uma juventude insatisfeita com os seus representantes também foi à rua protestar. No início, era "Movimento Passe Livre", depois virou #VemPraRua, com milhares de indignações em cartazes e nenhum foco. O gigante apenas tinha tomado uma injeção de ânimo mas quando o efeito acabou ele voltou a dormir. Também salvo exceções de jovens que acordaram e viram que têm deveres, mas devem cobrar pelos seus direitos e hoje são pessoas cientes sobre os acontecimentos da política no país.

Mas é a história da romantização dessa nova juventude: há aqueles que o mundo pode acabar amanhã, que um ex-senador cheirador de pó pode presidenciar o Brasil, que não sabem o que está acontecendo em relação à Petrobrás, na verdade, não repararam as diversas deficiências do bairro onde moram (ou repararam, mas isso tanto faz), que eles estão muito afetados com o término do namoro, com a próxima temporada do seriado e com aquela foto que não teve dez curtidas.

Não sei dizer o porquê desse perfil estar presente em muitas pessoas que conheço. "Sou especial porque escuto Beatles, gosto de ler livros e jogo vídeo game ao invés de sair para a balada". Primeiro que os caras de cabelo de cuia, como dizia minha avó, venderam mais de 500 milhões de discos, então não há razão em se sentir diferente por gostar deles. Ler livros é um favor que se faz ao cérebro e atrevo a dizer que trocar um show do Molejo por um playstation 4 que seja, é, no mínimo, falta de noção.

Por mais que a causa ainda seja desconhecida, devemos nos ater as consequências deste novo comportamento: jovens com um certo bloqueio na hora de concluírem projetos, irresponsáveis com seus compromissos -principalmente dentro de grandes empresas-, dificuldade de relacionamentos e de ouvir um, dois... cinquenta "não's" que a vida dá. Como diz o professor João Valério: "o mundo é mau, bonitinhos!"

Então, ao invés de ficar sentado tocando violão, cantando sobre o céu azul e as flores no jardim, esperando que a sua arte um dia seja reconhecida, se esforce, quebre a cara, mas mostre serviço. O mundo aqui fora não quer saber se você se sente um cara especial e desperdiçado, quer simplesmente que você apresente motivos para sê-lo.



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