- Que isso?
- Ahhhh, mãe. Vou estudar Jornalismo.
Eu mesma, há 5 anos, não sabia explicar o que era Comunicação Social. Ao entrar na faculdade, me falaram que é “a ciência que estuda as formas de linguagens, como os indivíduos se comunicam e outros mimimis.”
Na verdade, na época eu não estava nem aí para esses termos. Eu queria era mudar o mundo. E acreditava na doce-inocência-de-primeiro-período e que essa era a minha missão com o Jornalismo.
Semestres se passaram e hoje, há menos de cinco meses para a formatura, o termo “Comunicação”, não me causa dúvidas. A Dona Cida pode vir perguntar que eu sei a resposta na ponta da língua. O que gera um ponto de interrogação pra mim é o termo “Social.”
Não que eu não saiba o significado, mas o que me intriga é o porquê d’ele estar inserido no nome do curso, já que se faz tão ausente, principalmente, em tempos de intolerância em que a regra é: “comece com sangue.”
A Comunicação segue sozinha sem o apelo Social, e o resultado é mais ou menos este:
1. Mídia Elitista
Cena 1: O filho burguês, que tinha mais de 240 pontos na CNH e dirigia bêbado, se arranhou mas passa bem.
Cena 2: José Ferreira da Silva de 44 anos. José trabalhava como operário na obra da linha 4 do
Metrô e foi atropelado no momento em que voltada do trabalho. "Morreu na contramão atrapalhando o tráfego...”
2. A
mídia que claro, ÓBVIO, tenta manter a reputação de seus clientes:
“Podemos tirar se achar
melhor”
3. A
mídia que não descobriu se vai ganhar o público na transfobia ou no
sensacionalismo:
A matéria ainda mostra uma
foto da trans Verônica Bolina seminua e com o rosto desfigurado L
4. A
Publicidade e Propaganda que vende machismo ao invés de produtos:
Selecionei apenas esses 4
exemplos para demonstrar a quantas anda a Comunicação de cara virada para o
Social. Mas, o combo ainda traz muita parcialidade, racismo, homofobia, manipulação
e tudo que atender aos interesses dos “Senhores
de Engenho”.
Há cinco anos eu não sabia
exatamente qual era a função do meu curso. Hoje, ciente da responsabilidade
dele no mundo, vejo o mercado tentando me empurrar para uma maré que me faz
escolher entre dois pesos: qualidade de vida x qualidade de consciência.
Posso explicar: o primeiro me
traz conforto, uma carreira estável e viagens
maravilhosas nas férias. Ao mesmo tempo, uma vida mesquinha, voltada para o fortalecimento do ego, onde o ideal é
que eu seja rasa em assuntos complexos e que derrame
muito sangue no jornal de meio dia.
Já o segundo, não me trará visibilidade e terei de fazer freelas
para pagar as despesas do mês. Porém,
posso exercer o meu jornalismo ainda com a inocência do primeiro período de
tentar mudar o mundo, ou pelo menos, mostrar novas concepções de como agir
diferente há uma meia dúzia de pessoas, sem
precisar deturpar a manchete e ferir com ferro quem já sangra todos os dias devido
a um sistema tão covarde
quanto a minha primeira opção. Logo, terei 8 horas de sono ininterruptas
e acordarei linda para trabalhar no outro dia.
ALÔ Faculdades de Comunicação
Social, estudantes e simpatizantes: dá para fazer propaganda criativa sem oprimir
quem já sofre agressão diariamente. Dá para noticiar o acidente que causou a
morte de um homem, sem fazer do culpado a vítima. Dá para dar voz àqueles que são
silenciados, que são meras sombras anônimas nesse sistema capitalista-opressor,
onde quem tem vez é o homem-branco-classe média-heterossexual que faz discurso
sobre meritocracia.
Pra quem ainda tem dúvida: Social - 1. Concernente a uma
comunidade, a uma sociedade humana, ao relacionamento entre indivíduos etc.
Sejamos mais empáticos, sociáveis e humanos, amigos do
curso de Humanas.
“A revista moralista
Traz uma lista dos pecados da vedete
E tem jornal popular que
Nunca se espreme
Porque pode derramar.
É um banco de sangue encadernado
Já vem pronto e tabelado,
É somente folhear e usar,
É somente folhear e usar.”
Parque Industrial – Tom Zé