quarta-feira, 15 de outubro de 2014

O picacentrismo nosso de cada dia

Dei um tempo nesse assunto depois de ter entrado em algumas polêmicazinhas no facebook que me deram dor de cabeça nos dias. Após eu conhecer o feminismo e me libertar de todos esses estereótipos de merda que o patriarcado nos impõe (apesar da luta ser diária) tento levá-lo ao maior número de mulheres possível. Bom, o problema para os nossos queridos é exatamente este: o movimento é para e sobre mulheres, homem não mete a pica aqui.

Lembro da última postagem que causou um alvoroço e atraiu dezenas de machinhos, um deles, precursor da polêmica, foi ridicularizado quando uma amiga feminazi-satânica postou prints dele se redimindo e admitindo ser um babaca no INBOX (porque é óbvio, nos comentários era o machão, tinha que fazer média e ganhar like dos brother). Senti um enorme orgulho em ver tanta mulher engajada nesse dia. Porque se tem que dar palpite no feminismo, somos nós, homem vai cagar regra na organização do quarto deles, se derem conta sem pedir ajuda da mamãe.

Que mulher nunca passou por uma situação parecida? Pode ser qualquer assunto que diz respeito às mulheres, sempre tem um homem querendo intrometer e dizer: "não é bem desse jeito", "isso tá errado", blablabla, mimimi, vai peidar n'agua, fera. Mas, se a pauta é feminismo, respire fundo: é certeza que vai aparecer machozinho cagando regra e te dizendo o que é certo e errado nas nossas reivindicações.

Grafite no Cairo protestando contra a violência na praça Tahrir, no Egito

Uma vez escutei de um colega que se diz feminista (cof, cof) que homem pode entrar no movimento e dar palpite sim. Não, amigão! De uma vez por todas: você não estabelece as regras aqui. Se você se acha tão preocupado com a nossa luta, nos ouça e nos respeite! Se você é homem cis, nunca saberá o que é sofrer violência (física e psicológica) todos os dias. Pode até imaginar, mas não chega nem perto do que a sua mente é capaz de mensurar. Só uma mulher conhece todos os traumas adquiridos ao longo da vida pelo simples fato de ter nascido com dois cromossomos X.

Um exemplo clássico desse picacentrismo é quando você fala alguma coisa e  aparece um dizendo: "mas EU não sou assim, sou diferente". Brother, apenas PARE de fazer isso. Primeiro você tem que entender que quando se fala em machismo estamos tratando de uma sociedade arcaica e patriarcal. Como toda regra há exceção, também sabemos que existem homens firmeza no mundo. Mas, quando uma mulher te fala sobre o assunto e você vem chamar a atenção, simplesmente demonstra que não se importou com nada do que ela disse e invalida toda a revolta da mina.

E outra: se você se importa com a igualdade de gêneros, vai militar em qualquer lugar. E você não precisa nos provar nada e tentar nos ganhar na lábia, queremos ver é você falar com o seu amigo o quão é desrespeitoso cantar uma mulher, usar desculpa que a garota estava bêbada e forçar sexo, não fazer piadas com violência contra a mulher, parar de torrar a paciência de uma mulher em uma festa e só respeitar quando o cara que ela está acompanhada chega perto (porque homem merece respeito, a mulher não, né?) e uma infinidade de situações.

Depois que comecei com a militância, fui chamada por machinhos de vários adjetivos não muito agradáveis, um deles e talvez o mais comum é o clássico "mal-comida", quero deixar claro que graça às deusas este não é o meu caso, mas, obrigada pela preocupação. Mas, o que mais me chamou a atenção embora não tenha sido surpresa foi quando repetidas vezes me chamaram de sapatão. Hahaha, é óbvio que feminista ou é mal-comida ou não gosta da fruta, né? Como assim eu, senhor pica, sou tão desprezado? Logo eu, dono de tantos privilégios?

Realmente, apesar de gostar de homem sou mais macho do que muitos, já dizia Rita Lee. E, estou voltando com tudo através deste blog que vos fala, para fazer ativismo de sofá. Porque eu faço parte de uma parcela mínima da população que acredita na ideia radical de que mulher é gente.

Eu sinto um alívio danado quando olho e vejo que não sou mais a Nayara de quase dois anos atrás, propagodora (inconscientemente) de misoginia. Todas nós já fomos assim um dia, e, eu apenas desejo à todas inimigas que conheçam o feminismo e sejam felizes. O caminho é cheio de espinhos, começamos a questionar diversas situações que antes achávamos normais, mas, o autoconhecimento e o gosto de liberdade é indescrítivel. Vai ter mulher empoderada sim, machinhos. E tirem as picas do caminhos porque queremos passar!