terça-feira, 7 de junho de 2016

Camuflagem




o reflexo no espelho não era seu
a roupa
os cílios
o batom
a alma que se perdeu

e doeu

queria ser admirada
para ser amada
e o desespero deu cheque-mate
no auto-golpe

os pés rachados
o coração apertado
os olhos lacrimejados
já não dão conta, mulher

até quando você vai socorrer
a solidão
do outro?

quantas personalidades você vai comportar
para insistir onde não há
poesia?

por mais quantos caminhos obscuros
você vai percorrer
e continuar a expor
o oposto do que se é?

[ouvindo: preciso me encontrar - cartola]



sexta-feira, 15 de abril de 2016

Homenagem aos Mestres

Abriram-se as cortinas. O espetáculo havia começado.

Os atores chegavam meio perdidos, com roteiros parecidos com aqueles do ensino médio. Os diretores da peça enxergavam ali um grande trabalho pela frente: apontar o caminho para que pudessem escrever a própria história.

Os jovens atores, porém, não estavam preparados para ser protagonistas. Queriam um storytelling pronto, e que de brinde visse um diploma.

Quem dirigiu essa peça teve que lidar no mínimo com atrasos, perguntas ressuscitadas da escola, noites em branco, e desculpe, mas também foi trocado várias vezes pelo Bar do Chico (mas, não se preocupe, pois o conhecimento também foi válido através das filosofias de boteco).

Ainda assim, o jovem ator queria ser moldado.  Contando os dias no calendário para que esse momento chegasse.

Enquanto isso, os diretores tentavam explicar que muito além de teorias, era necessário primeiro, ser-humano, para saber lidar fora do palco com outros seres humanos. E para isso, não havia tempo pré-estabelecido.

Cada ator, no seu personagem de contador, enfermeiro, jornalista, publicitário ou analista de sistemas, deveria em algum momento desses anos, reconhecer a responsabilidade social que deveria exercer.

Obrigada àqueles que não nos ajudaram a nos tornar robôs em nossas profissões. Mas, foram escadas para sermos singulares em nossas funções. Hoje, se apresentam para a plateia mais esperada, profissionais que agirão com responsabilidade, ética, profissionalismo e humanidade. E o méito também é de vocês, mestres.

Fecham-se as cortinas. Fim de espetáculo. A vida real começa agora.


(Texto lido na Colação de Grau do dia 13/4/16 das turmas de Ciências Contábeis, Enfermagem, Comunicação Social e Sistemas de Informação. Em homenagem especial aos professores de  Graziela Vaz, João Valério, Julia Espejo e Ricardo Nogueira. Cês são feras! <3)


quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O que acontece quando a Comunicação desfaz a amizade com o Social

- Mãe, eu vou fazer Comunicação Social.
- Que isso?
- Ahhhh, mãe. Vou estudar Jornalismo.

Eu mesma, há 5 anos, não sabia explicar o que era Comunicação Social. Ao entrar na faculdade, me falaram que é “a ciência que estuda as formas de linguagens, como os indivíduos se comunicam e outros mimimis.”

Na verdade, na época eu não estava nem aí para esses termos. Eu queria era mudar o mundo. E acreditava na doce-inocência-de-primeiro-período e que essa era a minha missão com o Jornalismo.

Semestres se passaram e hoje, há menos de cinco meses para a formatura, o termo “Comunicação”, não me causa dúvidas. A Dona Cida pode vir perguntar que eu sei a resposta na ponta da língua. O que gera um ponto de interrogação pra mim é o termo “Social.”

Não que eu não saiba o significado, mas o que me intriga é o porquê d’ele estar inserido no nome do curso, já que se faz tão ausente, principalmente, em tempos de intolerância em que a regra é: “comece com sangue.”

A Comunicação segue sozinha sem o apelo Social, e o resultado é mais ou menos este:

1. Mídia Elitista
Cena 1: O filho burguês, que tinha mais de 240 pontos na CNH e dirigia bêbado, se arranhou mas passa bem.
Cena 2: José Ferreira da Silva de 44 anos. José trabalhava como operário na obra da linha 4 do
Metrô e foi atropelado no momento em que voltada do trabalho. "Morreu na contramão atrapalhando o tráfego...”


2.   A mídia que claro, ÓBVIO, tenta manter a reputação de seus clientes:
“Podemos tirar se achar melhor”


3.  A mídia que não descobriu se vai ganhar o público na transfobia ou no sensacionalismo:
A matéria ainda mostra uma foto da trans Verônica Bolina seminua e com o rosto desfigurado L


4.   A Publicidade e Propaganda que vende machismo ao invés de produtos:


Selecionei apenas esses 4 exemplos para demonstrar a quantas anda a Comunicação de cara virada para o Social. Mas, o combo ainda traz muita parcialidade, racismo, homofobia, manipulação e tudo que atender aos interesses dos “Senhores de Engenho”.

Há cinco anos eu não sabia exatamente qual era a função do meu curso. Hoje, ciente da responsabilidade dele no mundo, vejo o mercado tentando me empurrar para uma maré que me faz escolher entre dois pesos: qualidade de vida x qualidade de consciência.

Posso explicar: o primeiro me traz conforto, uma carreira estável e viagens maravilhosas nas férias. Ao mesmo tempo, uma vida mesquinha, voltada para o fortalecimento do ego, onde o ideal é que eu seja rasa em assuntos complexos e que derrame muito sangue no jornal de meio dia.  

Já o segundo, não me trará visibilidade e terei de fazer freelas para pagar as despesas do mês. Porém, posso exercer o meu jornalismo ainda com a inocência do primeiro período de tentar mudar o mundo, ou pelo menos, mostrar novas concepções de como agir diferente há uma meia dúzia de pessoas, sem precisar deturpar a manchete e ferir com ferro quem já sangra todos os dias devido a um sistema tão covarde quanto a minha primeira opção. Logo, terei 8 horas de sono ininterruptas e acordarei linda para trabalhar no outro dia.

ALÔ Faculdades de Comunicação Social, estudantes e simpatizantes: dá para fazer propaganda criativa sem oprimir quem já sofre agressão diariamente. Dá para noticiar o acidente que causou a morte de um homem, sem fazer do culpado a vítima. Dá para dar voz àqueles que são silenciados, que são meras sombras anônimas nesse sistema capitalista-opressor, onde quem tem vez é o homem-branco-classe média-heterossexual que faz discurso sobre meritocracia.

Pra quem ainda tem dúvida: Social - 1. Concernente a uma comunidade, a uma sociedade humana, ao relacionamento entre indivíduos etc.

Sejamos mais empáticos, sociáveis e humanos, amigos do curso de Humanas.



“A revista moralista
Traz uma lista dos pecados da vedete
E tem jornal popular que
Nunca se espreme
Porque pode derramar.
É um banco de sangue encadernado
Já vem pronto e tabelado,
É somente folhear e usar,
É somente folhear e usar.”
Parque Industrial – Tom Zé





quarta-feira, 22 de julho de 2015

É de esquerda, barbudo e gente boa: mas NÃO é para casar


Quando eu me assumi feminista, mesmo sem entender direito o que isso significava, passei por uma série de situações constrangedoras. Muitos (muitos!) homens me agrediram verbalmente, tentaram deslegitimar a minha luta e vomitaram vários estereótipos que se têm a respeito das ativistas. Na época, eu não sabia lidar com isso, mas segui firme no que eu acreditava.

Com o passar do tempo, percebi que a maioria desses homens começou a conversar comigo sobre o feminismo, postavam em suas redes sociais e esperavam que eu desse um troféu de homemsalvadordapátriaedalutasdasminorias. O que graças à deusa, nunca ocorreu.

E eu vou explicar o motivo: eu não sei o que me deixa mais irritada: o machistinha que não reconhece as baboseiras que faz, ou o famoso “esquerdo-macho” aquele cara que diz ser a favor da igualdade de gêneros, mas acredita que o feminismo propaga mais ódio, logo, o ideal seria lutar pelo “humanismo”. No fim das contas eles são a mesma coisa: querem manter o protagonismo, silenciar e oprimir.

A questão é que o cara machista é fácil de identificar. O esquerdo-macho não.

Ele é o cara de esquerda envolvido nas questões sociais, lê Nietzsche, prefere um boteco copo sujo à uma balada, ouve Coltrane e ainda é barbudo: o homem que eu pediria em casamento. Se não fosse, é claro, mais um babaca que não reconhece os privilégios que o patriarcado lhe concedeu.


Esse cara é aquele que se diz apoiador das causas das mulheres (alguns até ousam se intitular como feministas), mas acha que somos radicais em muitos pontos e querem nos ensinar a reivindicar direitos. Aliás, as pautas que você não critica são aquelas sobre liberdade sexual, não é? Porque aí te beneficia.

Somos radicais, sabe por que, homem gracinha? Queremos atingir um patamar em que você está desde os primórdios. Engraçado, nunca te vi falando que os sindicalistas são radicais ou que os funcionários devem ser mais dóceis com o patrão.

Esses homenzinhos hétero, na maioria das vezes brancos, da paz, energia legalize, focados no seu umbiguinho gente boa, são tão babaquinhas que vêm nos chamar no bate papo pra falar do "ódio" praticado pelas minorias que tomam "tudo" como preconceito e respondem de maneira raivosa antes de qualquer coisa.

Quando argumentamos que essa raiva é uma resposta e fruto de um histórico de discriminação e que ainda que não ideal, é necessário, o homenzinhogenteboaenergiagracinhadobem resolve encerrar a discussão porque ele (como pode?) não ganhou nossa aprovação e não conseguiu colecionar estrelinha em seu diário de boas ações que confirmam que ele é um cara legal.

Nós lutamos por igualdade, pelo empoderamento e para termos mais espaços que discutam nossas pautas. E antes que você fale que é exagero, que nós, feministas de esquerda, queremos falar apenas sobre mulheres, vai um aviso: meu feminismo é interseccional. A luta contra a desigualdade social, o combate a pobreza, ao racismo e toda forma de preconceito também são discutidas.

Esse texto é pra você, floquinho de neve sofrido, que paga de feminista na internet, mas compartilha o vídeo da novinha pelada no whatsapp.

Beijos de luz <3

segunda-feira, 2 de março de 2015

Tá liberado: ter pochete - Pelo direito de não ter barriga sarada

- Me fale a verdade: você está comendo muita massa ou bebendo muita cerveja?

Essa foi a pergunta da minha mãe ao me ver após algumas semanas, se referindo à minha barriga. Sorridente, respondi: - As duas coisas, Dona Cida!

Na hora eu achei graça, mas, depois parei para pensar em como essa pergunta seria problemática pra mim há um tempo atrás. Eu sempre fui neurótica por causa do meu corpo, no fundamental era a “tábua”, “cabo de vassoura”, etc.

O bicho pegou pro meu lado na adolescência: enquanto as meninas se desenvolviam e passavam por aquela fase de exibir seios, coxas e bunda (o que é normal), eu não ousava usar shorts, nem na escola e nem fora dela.

Enfim, pela primeira vez, eu chego aos sonhados 50kg. Sem grilos, sem muito esforços.  Mas, melhor que isso: olho no espelho, e, pela primeira vez, gosto do que vejo. Eu não estou cega ao ponto de negar as minhas imperfeições: minha barriga está positivíssima, bem longe de entrar na onda de “barriga negativa”. Mas quer saber? Foda-se.


Durante toda a minha infância e adolescência (principalmente na adolescência) eu me deixei levar pela ditadura da beleza: A TV mostrava que as meninas que se davam bem e eram desejadas eram branquinhas, cabelo liso e comprido, seios fartos e coxas e bunda enormes. E claro, as revistas davam 10 dicas para se tornar assim. E por aí vai...

Tentei frequentar a academia, porém, como eu detesto aquele ambiente, não durou muito tempo. Comia de tudo, e: nada. O que eu não conseguia entender era que eu não estava magra. Eu sou magra. 

Eu me arrependo de não ter comprado os shorts que eu gostava, de não usar as saias que eu achava bonitas, pelo simples fato de pensar que “pagaria mico” e “não me encaixava no padrão”.  Infelizmente, naquela época ninguém veio me falar que eu não devia acreditar na mídia, e que os padrões de beleza exigidos por ela, eram praticamente inatingíveis, e que exigir isso de uma adolescente chega a ser covardia.

Graças à Deusa, eu conheci o feminismo e ele me libertou de todos esses estereótipos. É desumano ditar desde cedo para uma menina o que ela deve fazer para ser aceita na sociedade e ser considerada bonita, quando na verdade, todos nós sabemos que não existe regra para a beleza.

Existe beleza no magro e no gordo, no negro, amarelo e branco, nos olhos puxados e arregalados. No cabelo crespo e amarelo, no liso e ruivo, no curto e preto. Existe beleza na diversidade. Mais que isso: existe beleza no que ela pode oferecer. Até porque, a beleza física se torna irrelevante depois de quinze minutos. É preciso ter algo além, a beleza por si só não sustenta nenhum tipo de relação. Como Antonie de Sanit-Exupéry bem escreveu em O Pequeno Príncipe: “O essencial é invisível aos olhos”.

E, é isso que me faz olhar hoje no espelho e gostar do que está sendo refletido. Eu sei que sou muito mais que esses 1,55m de altura. Eu sei que eu peso muito mais no mundo do que esses míseros 50kg. E, sei que o tamanho dessa barriga que incomoda a minha mãe, minhas tias e algumas colegas, não é nada perto do tamanho do incômodo que eu provoco quando dissemino o feminismo.

Moçxs, desconstruímo-nos desses rótulos. Se sentir inadequadx porque falam que você não está ~nos padrões~, só te faz gastar grana e contribuir com o lucro das empresas que vendem produtos para a pseudo-felicidade. Somos lindxs, cada uma do seu jeito (e variadas formas). 

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O que aprendi com Júpiter este ano

2015 já bate na porta e parece que foi ontem que eu pulei sete ondinhas e prometi que este ano seria diferente: na vida pessoal, amorosa e no trabalho. E, estaria mentindo se dissesse que não foi.

2014 é regido por Júpiter, logo, foi (e está sendo) um ano de exageros, intensidade e muito barulho. Segundo os astrólogos, meu signo (escorpião) seria um dos mais beneficiados com isso. Hoje, eu diria que eles deveriam trocar "beneficiar" por "atingido".

O balanço geral deu negativo. Ora bolas, o que esperar de uma aspirante a jornalista, feminazi e ainda por cima escorpiana? O resultado é só: emoção, emoção e emoção. Para que raios intensificar o que já vive no aumentativo por natureza, Júpiter?

Você deve estar pensando que eu sou aquele tipo de pessoa que compra revista de astrologia e vai no tarólogo todo mês. Bem... não sou. Quem dera se eu tivesse dado ouvidos aos astrólogos no início deste ano. Eles já previam: a dança fluiria de acordo com a sua vibe.  Júpiter estava aí apenas para ampliar as emoções.

Só de apartamento eu troquei três vezes. Arrumei outro emprego para acabar com o tempo livre. Apaixonei por um metaleiro. E por aí foi.

No fim de novembro eu já estava exausta, contando cada minuto para o ano acabar. Hoje eu parei pra pensar que essa ansiedade de recomeço é comum pra geral, todos os anos. E resolvi deixar de ser ingrata e agradecer -­ e crescer -­ por todas as situações que eu fui submetida.

Mudar tanto de apartamento foi a melhor coisa que eu fiz: hoje eu tenho uma janela gigante virada pro centro da cidade. Aumentei minha rotina de trabalho, logo, minha renda financeira também. Conheci uma pessoa que passou pela minha vida e sem saber me ensinou que metal é bom (mas ainda não gosto de Sepultura) e que discutir feminismo com homem às 2h da madrugada numa terça­-feira soma para as duas partes.

Mas, antes de tudo, pela primeira vez eu estou começando a me entender e a me aceitar. Até o último réveillon eu apenas pedia, pedia, pedia e nunca entendia porque não rolava. Eu sempre esqueci o principal: conhecer a minha essência.

Sou como a haste fina de Bethânia, que qualquer brisa verga, mas nenhuma espada corta. A bruta flor de Caetano. A Nina de Chico. Sou todas e nenhuma. A poesia que não respeita a métrica. O jornalismo que não segue o lead. Uma montanha­-russa de sentimentos.

Eu ousaria definir com uma frase que li no facebook: "Eu moro em mim, mas ô casa bagunçada."

E, aceitando essa mistura de aumentativos, parei de jogar pedras em 2014 ou quando o ano não atende as minhas expectativas. O problema não são os dias. É a sintonia que a gente vibra. O Universo conspira a favor se a gente deixar a bad vibe e curtir e agradecer pela luz do sol ou o céu estrelado.

Pode parecer clichê, mas é verdade: é hora de parar de espirrar a poeira e varrer para deixar a casa limpa para o ano que vai chegar. E, não esquecer de segurar o forninho porque Júpiter não vai dar moleza pra ninguém até março de 2015, quando ele passa a bola para Marte.

Qualquer coisa, se o clima ficar osso de aguentar e você quer ficar numa relax, numa tranquila, numa boa, coloque Molejo no último volume e tome vinho seco sozinho em casa. É batata!

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

O picacentrismo nosso de cada dia

Dei um tempo nesse assunto depois de ter entrado em algumas polêmicazinhas no facebook que me deram dor de cabeça nos dias. Após eu conhecer o feminismo e me libertar de todos esses estereótipos de merda que o patriarcado nos impõe (apesar da luta ser diária) tento levá-lo ao maior número de mulheres possível. Bom, o problema para os nossos queridos é exatamente este: o movimento é para e sobre mulheres, homem não mete a pica aqui.

Lembro da última postagem que causou um alvoroço e atraiu dezenas de machinhos, um deles, precursor da polêmica, foi ridicularizado quando uma amiga feminazi-satânica postou prints dele se redimindo e admitindo ser um babaca no INBOX (porque é óbvio, nos comentários era o machão, tinha que fazer média e ganhar like dos brother). Senti um enorme orgulho em ver tanta mulher engajada nesse dia. Porque se tem que dar palpite no feminismo, somos nós, homem vai cagar regra na organização do quarto deles, se derem conta sem pedir ajuda da mamãe.

Que mulher nunca passou por uma situação parecida? Pode ser qualquer assunto que diz respeito às mulheres, sempre tem um homem querendo intrometer e dizer: "não é bem desse jeito", "isso tá errado", blablabla, mimimi, vai peidar n'agua, fera. Mas, se a pauta é feminismo, respire fundo: é certeza que vai aparecer machozinho cagando regra e te dizendo o que é certo e errado nas nossas reivindicações.

Grafite no Cairo protestando contra a violência na praça Tahrir, no Egito

Uma vez escutei de um colega que se diz feminista (cof, cof) que homem pode entrar no movimento e dar palpite sim. Não, amigão! De uma vez por todas: você não estabelece as regras aqui. Se você se acha tão preocupado com a nossa luta, nos ouça e nos respeite! Se você é homem cis, nunca saberá o que é sofrer violência (física e psicológica) todos os dias. Pode até imaginar, mas não chega nem perto do que a sua mente é capaz de mensurar. Só uma mulher conhece todos os traumas adquiridos ao longo da vida pelo simples fato de ter nascido com dois cromossomos X.

Um exemplo clássico desse picacentrismo é quando você fala alguma coisa e  aparece um dizendo: "mas EU não sou assim, sou diferente". Brother, apenas PARE de fazer isso. Primeiro você tem que entender que quando se fala em machismo estamos tratando de uma sociedade arcaica e patriarcal. Como toda regra há exceção, também sabemos que existem homens firmeza no mundo. Mas, quando uma mulher te fala sobre o assunto e você vem chamar a atenção, simplesmente demonstra que não se importou com nada do que ela disse e invalida toda a revolta da mina.

E outra: se você se importa com a igualdade de gêneros, vai militar em qualquer lugar. E você não precisa nos provar nada e tentar nos ganhar na lábia, queremos ver é você falar com o seu amigo o quão é desrespeitoso cantar uma mulher, usar desculpa que a garota estava bêbada e forçar sexo, não fazer piadas com violência contra a mulher, parar de torrar a paciência de uma mulher em uma festa e só respeitar quando o cara que ela está acompanhada chega perto (porque homem merece respeito, a mulher não, né?) e uma infinidade de situações.

Depois que comecei com a militância, fui chamada por machinhos de vários adjetivos não muito agradáveis, um deles e talvez o mais comum é o clássico "mal-comida", quero deixar claro que graça às deusas este não é o meu caso, mas, obrigada pela preocupação. Mas, o que mais me chamou a atenção embora não tenha sido surpresa foi quando repetidas vezes me chamaram de sapatão. Hahaha, é óbvio que feminista ou é mal-comida ou não gosta da fruta, né? Como assim eu, senhor pica, sou tão desprezado? Logo eu, dono de tantos privilégios?

Realmente, apesar de gostar de homem sou mais macho do que muitos, já dizia Rita Lee. E, estou voltando com tudo através deste blog que vos fala, para fazer ativismo de sofá. Porque eu faço parte de uma parcela mínima da população que acredita na ideia radical de que mulher é gente.

Eu sinto um alívio danado quando olho e vejo que não sou mais a Nayara de quase dois anos atrás, propagodora (inconscientemente) de misoginia. Todas nós já fomos assim um dia, e, eu apenas desejo à todas inimigas que conheçam o feminismo e sejam felizes. O caminho é cheio de espinhos, começamos a questionar diversas situações que antes achávamos normais, mas, o autoconhecimento e o gosto de liberdade é indescrítivel. Vai ter mulher empoderada sim, machinhos. E tirem as picas do caminhos porque queremos passar!