sexta-feira, 7 de março de 2014

Feliz dia da mulher é o caralho

Hoje às 7 da manhã quando eu estava indo trabalhar, um senhor me parou no meio do caminho:
- Moça, que dia é hoje?
- Sexta, dia 8.
- Então, Feliz Dia da Mulher!!!

Fiquei feliz não pela comemoração em si, mas por ele ser homem e ter se lembrado logo tão cedo. E por ter me parabenizado, sem me conhecer. Mas olha, que bosta, nós dois nos enganamos. Hoje ainda é 7 de março. 
Ainda assim, aproveito para pontuar algumas coisas, não apenas por ser véspera da data, mas são manifestações pessoais que quem me conhece sabe que fazem parte de uma luta diária.

O Dia Internacional da Mulher comemora as conquistas por melhores condições de vida e trabalho do sexo feminino. Para os que falam: "o dia da mulher é só um, os outros do ano são dos homens", eu só tenho um pedido a fazer: continue lendo, por favor. Assim como as revistas femininas só falam sobre homens, hoje, as palavras desta feminista que vos escreve, são pra você.

Primeira coisa: no Brasil, o Dia Internacional do Homem é celebrado no dia 15 de julho com o objetivo de promover a saúde masculina e buscar a igualdade entre os gêneros. Ou seja: homem também pode usar cor-de-rosa sem ser chamado de bichinha, pode ser livre em suas escolhas e não se encaixar nos estereótipos desta sociedade machista e patriarcal sem ser taxado como veado. 

E segundo, cara, a luta das mulheres se arrasta há mais de séculos. Há cerca de 150 anos, 129 operárias que reivindicaram melhores condições de trabalho foram trancadas em uma fábrica e queimadas vivas nos Estados Unidos. Fora isso, demorou muito tempo para a mulher ter permissão para cursar o ensino superior, votar, sair de casa para trabalhar, divorciar, entre outras coisas básicas

"Ah, ok. Parabéns, Nayara. Vocês já conquistaram o espaço na sociedade. Tem até uma presidente mulher."
Desculpe, mas não temos o que comemorar. Como diria o Criolo: "Não baixe a guarda, a luta não acabou!"
Por três anos consecutivos o Brasil ocupa a 7ª posição na listagem dos países com maior número de homicídios femininos. 
Eu sou repórter e ocasionalmente cubro crimes passionais e quando conto indignada para alguém sobre o fato da vez, geralmente me perguntam: "Mas a mulher que morreu (esfaqueada, estrangulada, torturada na frente dos filhos) traía o marido?" 
Juro, sempre fico perplexa com essa pergunta. Nós fomos criados com a cultura ridícula que a culpa é da vítima, quase nunca do opressor. 

Além disso, somos bombardeadas com produtos oferecidos por indústrias de beleza que lucram absurdamente pregando uma cultura misógina, nos deixando com medo de envelhecer e engordar. A famosa ~ ditadura da beleza ~. Por favor, meu caro, entenda que mulher não tem 1001 utilidades. Não exija que a sua companheira trabalhe, estude, cuide da casa sozinha, dos filhos, e resolva todos os pepinos (linda e em cima do salto 15) porque simplesmente "mulher dá conta do recado". Coitado de você, né? 
Pois bem, amanhã é dia de receber recados bonitinhos e flores em homenagem ao dia da mulher. Para os meus amigos, eu digo que esta data só fará sentido pra mim no dia em que:

- o tamanho da minha saia não for motivo pra eu ser chamada de "piriguete"
- eu não precisar pensar duas vezes na roupa que vou sair com medo de ser estuprada
- o meu jeito de vestir não for relacionado ao meu caráter
- eu não for assediada ao andar nas ruas através de cantadas (é ridículo e constrangedor, parem!)
- eu puder fazer o que quiser com o meu corpo sem sofrer imposições religiosas
- quando eu não for julgada de lésbica ou menos feminina por simplesmente não seguir os padrões de beleza
- no dia em que as minhas atitudes não forem associadas a homem, falta de pica ou louça pra lavar
-  quando eu não precisar "me dar o respeito", porque afinal, ele já é meu por direito!

Eu poderia enumerar mais uma série de situações, mas essas são suficientes o bastante para exemplificar o machismo camuflado nosso de cada dia. (In)felizmente, não nasci com a ~dádiva~ do cromossomo Y, então não tenho muita coisa pra comemorar amanhã. A luta está apenas começando. E se você, homem, leu até aqui, obrigada!!! Porque vocês também precisam do feminismo. Ao contrário do que muitos pensam, não queremos promover um apartheid entre os gêneros, buscamos por igualdade. Para que o alistamento militar não seja obrigatório, para que o processo de ganhar a guarda de um filho não seja burocrático apenas porque você é o pai. Para que você não seja o "veadinho" quando a sua opinião for diferente dos seus amigos, e para outras mil coisas. 

Então meu querido, amanhã não nos deseje "feliz dia", abrace a nossa causa, lute com a gente! Afinal, por incrível que pareça, a nossa maior conquista será não precisar mais lutar por igualdade. 


"Porque eu sou minha, só minha, e não de quem quiser!"


 [ouvindo: 1º de julho - Cássia Eller]

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